O século XXI tem assistido a turbulências várias e a um contínuo reaparecimento de revoluções de protestos conduzindo a mudanças sociais.
Podemos, desde logo, tomar como exemplo, a Primavera Árabe que aconteceu no norte da África e no Oriente Médio, a partir de 2010. Estes movimentos lutaram por justiça, por democracia, pelos direitos humanos, pela dignidade da vida e contra os abusos policiais e/ou (para)militares. No mesmo período também eclodiram vários protestos como consequência da crise financeira, principalmente nos países do sul da Europa. Noutros contextos, como o Brasil, Hong-Kong, Quénia ou Senegal, também tem havido dinâmicas massivas de protesto, dirigidas ao poder. Concomitantemente, o período pós-pandémico viu despoletar guerras em larga escala. O século XXI tem-se pautado, por uma constante insegurança global, no sentido em que vários têm sido os confrontos militares e políticos, desde a Ucrânia e a Rússia, passando pelos conflitos no Sudão, Israel e Palestina. Em simultâneo assistimos à ascensão dos populismos, dos discursos xenófobos e homofóbicos, empregues por uma extrema-direita que ameaça um conjunto de valores que julgávamos garantidos. A mudança, a resistência e a oposição têm sido levadas a cabo, muitas vezes, por via da arte. Assistimos, no presente século, ao renascimento da arte política. É cada vez mais comum o empenho dos artistas na defesa de ideologias políticas e na elaboração de práticas ativistas engajadas com diferentes movimentos sociais— tais como os movimentos de justiça climática, feministas, LGBTQIA+, antirracistas, entre outros. Esta noção de arte política dialoga com múltiplas práticas performáticas e performatividades relacionadas com o campo mais alargado da criação artística. Estes protestos estéticos e visuais, na verdade, demonstram o potencial transformador dos indivíduos enquanto agentes sociais, ou seja, evidenciam que qualquer indivíduo é capaz de realizar ações estético-políticas. Historicamente, as artes têm-se associado a processos revolucionários de várias tipologias. Além da dimensão coletiva da revolução, também são de importante relevo os artistas que adotaram um posicionamento político e que retrataram a revolução e o protesto nas suas criações artísticas.
O foco da quinta conferência internacional COMbART incide na interseção de três dimensões temáticas e analíticas: as revoluções, os protestos e os artivismos, recuperando a noção de ativismo estético-político.
Nesta chamada para propostas lidamos com o eixo da praxis mas também com o ethos criativo, aprofundando a relação entre teoria, prática, protesto e mudança social, no seu sentido mais radical: com tomadas de posição político-visuais. Procuramos entender as formas como a ação estético-política se associa a uma ordem de práticas, como o terrorismo poético e a arte sabotagem de Hakim Bey; a contrassexualidade de Paul B. Preciado; ou a arte de guerrilha de Frederico Morais e Luis Camnitzer, para dar apenas alguns exemplos. Com a noção de ativismo estético-político, pretendemos colocar os corpos e as vozes em evidência, mapeando o seu papel de crítica/fomento, em relação ao conceito de revolução e de protesto. Pretendemos aprofundar a miríade de ligações existentes entre práticas artísticas e ativismos estético-políticos e
perspetivar mudanças na forma de protesto social e digital na contemporaneidade.

** A conferência COMbART tem-se constituído, ao longo dos últimos anos, como um fórum de discussão em torno das práticas criativas e artísticas engajadas. Entendemos que a arte, a cultura, bem como um conjunto de outras práticas criativas não enquadradas nestas categorias, podem constituir-se como campos expressivos com um papel relevante na forma como se constrói a cidadania na contemporaneidade. **

A quinta conferência internacional COMbART é uma colaboração entre diferentes entidades. A organização envolve o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (IS-UP), o Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), o Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» (CITCEM) e o LabEA – Laboratório de Investigação em Educação

Artística / FBAUP. São também parceiros deste evento a Rede Luso-Brasileira Todas as Artes (TAA) e a Rede de Pesquisa Luso-Brasileira em Artes e Intervenções Urbanas (RAIU). Pretende-se, assim, congregar um conjunto diversificado de saberes, de disciplinas e de artes, abrindo a apresentação de propostas a investigadores provenientes de áreas como a sociologia, a antropologia, a história, a história de arte, as indústrias culturais e criativas, a economia cultural, a geografia cultural e social, o planeamento urbano, os estudos culturais, as ciências da comunicação e disciplinas correlatas, tais como a ilustração, a música, a performance, o cinema, as artes visuais e performativas e as novas tecnologias.

ORGANIZAÇÃO

Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (IS-UP)
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA, NOVA FCSH e IPLEIRIA)
CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»
LabEA – Laboratório de Investigação em Educação Artística / FBAUP