A Revista Configurações, editada pelo CICS.NOVA.UMinho e publicada em acesso aberto, tem aberta uma chamada de artigos para um dossier temático com o tema “Vírus, algoritmos e o Estado” até dia 15 de Outubro de 2022.
Coordenação
Fernando Bessa Ribeiro (Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e CICS.NOVA.UMinho) e Alípio de Sousa Filho (Instituto Humanitas de Estudos Integrados da Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Apelo a contributos
No último dia de 2019, o escritório chinês da Organização Mundial de Saúde tomou conhecimento da existência de uma pneumonia de etiologia desconhecida que afetava residentes em Wuhan. Rapidamente se percebeu que estávamos perante um vírus que, alastrando à velocidade dos aviões que cruzam os céus do planeta, se transformou numa nova pandemia. Por causa de um agente patogénico, fomos confrontados com uma ameaça que se generalizou e vai ceifando vidas, agora de modo menos intenso. Aparentemente nada de novo… A história está tingida de pandemias, algumas das quais mataram em número bem maior à atual. Se a epidemia confronta as nossas sociedades hipertecnológicas com o facto, sistematicamente obnubilado, de não estarmos fora da natureza, pelo que as nossas vidas são condicionadas e até eliminadas por ela – logo, não podendo ser pensadas, ignorando-a –, as respostas dos governos suscitam interpelações que renovam a urgência do debate sobre o Estado. A bem dizer, a pandemia alertou-nos para a força dos dispositivos estatais, não só mostrando que nada há de fatalismo nas escolhas políticas que se faz, nomeadamente, no campo económico, como também que o Estado está equipado de recursos e instrumentos de controlo que convocam Giorgio Agamben e o seu conhecido conceito de estado de exceção, aliás, discutido por Walter Benjamin no seu Zur Kritik der Gewalt de 1921. Como hipótese provável, já não se trata de ver o estado de exceção no horizonte das nossas vidas, ele é já a forma do Estado. Ainda que não existindo uma coincidência perfeita de argumentos, Shoshana Zuboff considera que o atual Estado capitalista é dominado pelo excecionalismo de vigilância, quer dizer, aquilo que era exceção, só se aplicando a situações e indivíduos particulares, como a guerra e os terroristas, passou a aplicar-se de forma generalizada e permanente. Os sistemas de vigilância, incluindo os que vigiam as nossas comunicações, como nos mostraram Edward Snowden e Julian Assange – este, objeto de uma ação de lawfare – são parte fundamental do estado de exceção, suscitando interpelações sobre o modo como se exerce o controlo legal, ideológico e sanitário das populações. Como esta configuração do Estado capitalista tem de ser compreendida considerando também as duas mudanças decisivas em curso – a da quarta revolução tecnocientífica e industrial (indústria 4.0) e a da riqueza, conhecimento e poder para o Oriente –, serão bem acolhidas propostas de artigos que, alicerçados em diferentes enfoques disciplinares, teóricos e metodológicos, contribuam para o debate crítico sobre o Estado e seus dispositivos de controlo e vigilância, facultando ao/à leitor/a o aprofundamento do seu conhecimento, em particular, acerca dos seguintes tópicos:
- Teoria e perspetivas sobre as configurações do Estado;
- Ciência, técnica e tecnologias de controlo social e político;
- Algoritmos e dispositivos de vigilância e controlo social na pandemia;
- Redes sociais, fake news e vigilância através da Internet.
As propostas devem ser endereçadas à Direção da Revista, através do e-mail configuracoes_cics@ics.uminho.pt, até ao dia 15 de outubro de 2022. Recomenda-se aos/ às autores/as a leitura das normas de publicação, disponíveis em https://journals.openedition.org/configuracoes/14779 e aqui.