Já se encontra disponível o novo número temático “Pierre Bourdieu: vinte anos depois, legado e usos de uma prática de investigação sociológica” da Configurações: Revista de Ciências Sociais, editada pelo CICS.NOVA.UMinho.
Este número foi coordenado por Virgílio Borges Pereira (Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras e Instituto de Sociologia da Universidade do Porto) e Edison Bertoncelo (Departamento de sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – Brasil).
O número encontra-se disponível em acesso aberto.
A prática sociológica de Pierre Bourdieu foi, durante a vida do professor e investigador francês, muito influente tanto dentro como fora do seu país, contribuindo, ativamente e em vários domínios, para a construção do campo académico disciplinar e para a definição de prioridades de investigação específicas com impactos que se foram materializando, com inevitáveis cambiantes e cronologias, ao longo de quarenta anos de intensa produção científica. Seja pela definição, aperfeiçoamento e renovação conceptuais, seja pela vinculação desse trabalho conceptual a um afincado esforço de construção de objetos em esferas muito distintas das práticas sociais e simbólicas, seja ainda por um constante convite ao equacionamento da dimensão reflexiva da prática sociológica tanto nos planos epistemológico, teórico e metodológico, como nos relativos à respetiva dimensão mais orientadamente política, Bourdieu animou coletivos de investigação e desenvolveu uma produção científica sui generis muito densa e variada, materializada em cerca de 40 livros originais e em várias centenas de artigos e de intervenções de âmbito muito alargado. Com a sua morte, repentina, em janeiro de 2002, a sociologia perdeu uma das suas vozes mais influentes e mais originais. Contudo, não obstante a morte do autor, e por força, desde logo, dos coletivos que Bourdieu animou, foi possível, nos anos posteriores ao seu desaparecimento, continuar a conhecer vários textos sociológicos – documentos inéditos, intervenções transcritas, textos reeditados – que têm vindo a alargar a sua obra publicada (entre outros, ver Bourdieu, 2015, 2016). A um tal trabalho acresce o continuado interesse que vários coletivos de investigação, em diferentes contextos mundiais, têm colocado na dinamização de projetos editoriais dedicados à discussão do legado sociológico de Bourdieu e à respetiva mobilização para o desenvolvimento de investigação sociológica e científico-social sobre aspetos distintos das práticas sociais e simbólicas (Medvetz & Sallaz, 2018; Coulangeon & Duval, 2013). Cerca de 20 anos depois da morte de Bourdieu continua, por isso, a ser pertinente equacionar o legado da sua obra e sistematizar conhecimentos em torno do modo como esta tem vindo a ser recebida na prática de investigação à luz de análises estabilizadas sobre tais processos (Ortiz, 2013; Machado, 2020) e de interrogações novas que se possam gerar a seu propósito.